Esperar e resistir
Mensagem da Assembleia Conciliar realizada em Frankfurt
de 18-21 de Outubro
Esta mensagem foi aprovada por uma esmagadora maioria no dia 21.10 pelos cerca de 500 participantes na Assembleia Conciliar
O Concílio Vaticano II foi o começo de um começo: a Igreja Católica entra na idade moderna, num mundo plural – um mundo em que a distância entre ricos e pobres aumenta cada vez mais. Ela re-descobre o rosto de Jesus – nos medos e esperanças das pessoas, sobretudo dos pobres e oprimidos.
O Concílio foi o tempo do recomeço numa Igreja, que queria ultrapassar o clericalismo. As estruturas eclesiásticas ultrapassadas continuam a impedir o caminho a um autêntico anúncio do Evangelho.
50 anos depois do Concílio, nós, cristãs e cristãos em paróquias e movimentos, organismos eclesiais, em grupos de base e de reforma queremos prosseguir este caminho: por a descoberto e reacender as brasas de renovação conciliar. Como Povo peregrino de Deus no meio das perturbações e convulsões dos nossos dias, une-nos a vontade de viver hoje a herança espiritual do Concílio e do processo conciliar pela justiça, paz e salvaguarda da criação, de reconhecer os “sinais dos tempos”, de por em prática alternativas à hegemonia neoliberal do capital e do lucro.
A Assembleia conciliar mostrou que há muitos grupos e iniciativas cristãs a dar passos concretos para possibilitar a todos no nosso mundo condições de vida dignas e sustentáveis. Resistem a um pensar e a um agir na política e na economia que nos querem fazer crer que não há alternativas à nossa ordem mundial capitalista. A certeza de que um mundo outro é possível está ligada à mensagem jesuânica do Reino de Deus, que o Concílio colocou sob nova luz. Este outro mundo de Deus manifesta-se em sinal lá onde as pessoas partilham umas com as outras aquilo que é necessário para uma vida digna.
A nós anima-nos a promessa de Jesus de uma vida em plenitude para todos (Jo 10,10). Uma Igreja outra é necessária e possível: uma Igreja profética e diaconal; uma Igreja outra, que ponha em prática a igualdade dos géneros e de todas as formas de vida, a participação e o diálogo, a democracia radical e a comunhão com a criação!
- Somos o Povo de Deus no espírito do Concílio, quando lutamos por uma vida digna para todas as pessoa e se proclamarmos a unidade da vida na prática da justiça e da oração
- Somos o Povo de Deus no espírito do Concílio, quando nos aliamos com as muitas pessoas que estão à procura, com os movimentos feministas de direitos humanos e democráticos, sociais e políticos. Entre eles, os movimentos lésbicos, gays, trans-sexuais e inter-sexuais.
- Somos o Povo de Deus no espírito do Concílio, se respeitarmos o sagrado da Terra como criação de Deus, cultivando e salvaguardando.
- Somos um Povo de Deus no espírito do Concílio, se respeitarmos a diversidade confessional, religiosa e cultural.
A mensagem bíblica do Deus da Vida é para nós motivação e exigência: ser pessoas outras numa Igreja outra e num mundo outro.
A partir destas conclusões queremos orientar a nossa acção futura, de modo especial nestes anos de celebração dos 50 anos do Concílio 2012-2015 e perante a celebração dos 500 anos da Reforma em 2017.
(Tradução a partir do original alemão: Joaquim Nunes)